Carmen - Texto Participativo
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1. Contexto Setorial: Onde estamos? (BLOCO 1)
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1.1 A importância da adaptação para a indústria e mineração (TÍTULO 1)
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A indústria brasileira representa um pilar fundamental da economia nacional, se estendendo por inúmeros segmentos, que vão da manufatura à tecnologia avançada, da provisão de infraestrutura à fabricação de bens de consumo. A indústria também conecta atividades de diferentes setores produtivos nacionais, exercendo influência profunda e multifacetada na economia e no bem-estar social. A indústria contribuiu com 25,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2023 (BRASIL, 2023g). Sua participação na balança comercial é a mais significativa entre todos os setores econômicos, alcançando, em 2023, 66,6% do valor das exportações de bens e serviços do país (BRASIL, 2024a).
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A indústria brasileira também se destaca em inovação tecnológica, com 66,8% de participação em investimentos empresariais em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) (BRASIL, 2024a), além de oferecer capacitação técnica de alta qualidade e promover o bem-estar de seus empregados e familiares, por meio de programas como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Social da Indústria (SESI). Além de sua relevância econômica, a indústria direciona padrões de consumo e estilo de vida da sociedade como um todo. Sua distribuição geográfica afeta tanto a estrutura quanto o ordenamento territorial, com influência sobre infraestrutura, mobilidade e planejamento urbano e rural. O setor também desempenha um papel crucial na promoção da cultura brasileira, seja por meio da incorporação de elementos em seus produtos ou pelo patrocínio, apoio e promoção de eventos culturais, esportivos, projetos artísticos e iniciativas comunitárias.
Em 2022, os processos industriais foram responsáveis por 21,2% dos empregos formais (BRASIL, 2024a). Além disso, o rendimento médio dos empregados na indústria é superior ao de outros setores, contribuindo para a redução da desigualdade e a promoção do desenvolvimento social do país. Em termos de arrecadação de tributos federais, em 2023 o setor industrial contribuiu com 34,8% da arrecadação observada, excluindo os tributos previdenciários (BRASIL, 2024a). A cada R$1,00 investido pela indústria, são gerados R$2,44 na economia brasileira, ou seja, há um retorno de R$1,44 adicionais na indústria e no restante da economia brasileira, uma proporção notável entre os setores econômicos (Indústria S/A, 2024).
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Do ponto de vista de mitigação, o setor de processos industriais e uso de produtos (IPPU)1, é responsável por 6,3%, da emissão nacional de gases de efeito estufa (GEE), segundo a 4ª Comunicação Nacional do Brasil à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (BRASIL, 2021b). Adicionalmente, vale ressaltar que grande parte das indústrias são energointensivas2, dependentes de água e de matéria-prima de origem vegetal, animal e mineral. A complexa interdependência das cadeias de valor da indústria nacional aumenta sua vulnerabilidade em relação aos efeitos da mudança do clima. Subsetores industriais intensivos no uso de água estão mais expostos à seca. Por exemplo, a estiagem ocorrida no Amazonas entre outubro e novembro de 2023 resultou no menor nível atingido pelo Rio Negro no último século (12,7 metros), resultando em custos de mais de R$ 1 bilhão para a indústria local devido à impactos na cadeia de suprimentos (ZARUR, 2024).
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Adicionalmente, acrescenta-se que o setor mineral compartilha similaridades com o setor industrial quando se trata de riscos climáticos. Ambos enfrentam desafios relacionados à necessidade de adaptação à mudança do clima. A capacidade de adaptação é, portanto, fundamental tanto para o setor mineral quanto para o setor industrial. Em 2023, o setor mineral representou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, destacando-se como um pilar significativo da economia nacional. Com a geração de aproximadamente 214 mil empregos diretos e mais de 2,28 milhões de vagas indiretas ao longo da cadeia produtiva, a mineração exerce um papel significativo no desenvolvimento econômico e social do país. Além disso, o setor gerou R$ 85,6 bilhões em tributos e royalties, dos quais R$ 6,85 bilhões são oriundos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), refletindo a sua contribuição substancial para as receitas públicas (IBRAM, 2024).
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Diante da relevância da indústria e mineração, torna-se evidente a importância do engajamento de ambas na implementação de ações de adaptação, fortalecendo a resiliência frente aos impactos da mudança do clima, buscando-se garantir o crescimento sustentável do país. As ações de adaptação reduzem as vulnerabilidades e/ou exposição dos sistemas industriais. Segundo a CNI (BRASIL, 2024c), espera-se que a indústria brasileira lidere iniciativas em energias renováveis, bioeconomia e economia circular, com foco especial em descarbonização e digitalização, além de contar com políticas públicas que incentivem investimentos nessas áreas. É essencial garantir que toda a cadeia de valor das indústrias receba o apoio necessário para a transição rumo a uma economia de baixo carbono e mais resiliente. Por fim, vale destacar que este plano contempla diversos subsetores estratégicos, abrangendo atividades essenciais para o desenvolvimento econômico e sustentável como os subsetores farmacêutico; siderurgia; petróleo, gás e energia; química; cosmética; cimento; agroindústrias de alimentos; papel e celulose; vidro; têxtil e mineração.
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1.2 Arranjo institucional (TÍTULO 2)
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Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC): é o órgão responsável pela formulação e implementação de políticas de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços; de propriedade intelectual e transferência de tecnologia; pelas políticas de metrologia, normalização e qualidade industrial; pela aplicação dos mecanismos de defesa comercial; bem como pelo desenvolvimento da economia verde, descarbonização e bioeconomia, no âmbito da indústria, do comércio e dos serviços. -
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Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria (MDIC/SEV) - Decreto nº 11.427/2023 (BRASIL, 2023d): À Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria compete, entre outras funções, propor e articular estratégias para melhorar os regimes jurídicos nacionais e internacionais sobre mudança do clima que impactam os setores produtivos. O Departamento de Descarbonização e Finanças Verdes, especificamente, é o responsável por (i) planejar e coordenar as ações do Ministério junto a instituições financeiras internacionais focadas em desenvolvimento sustentável, meio ambiente e mudança do clima; e (ii) desenvolver políticas de financiamento para apoiar estratégias de adaptação e mitigação dos impactos da mudança do clima e da perda de biodiversidade no desenvolvimento econômico e social, respeitando as atribuições de outros órgãos. -
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Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) - Decreto nº 5.352/2005 (BRASIL, 2005): Compete à ABDI promover a execução de políticas de desenvolvimento industrial, especialmente as que contribuam para a geração de empregos, em consonância com as políticas de comércio exterior e de ciência e tecnologia, o que a torna fundamental para promover a inovação e a modernização tecnológica da indústria brasileira, especialmente em áreas como Indústria 4.0, economia circular e digitalização. A agência também contribui na formulação de políticas que estimulam investimentos em tecnologias limpas e em modelos de negócios sustentáveis. -
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Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - Lei nº 1.628/52 (BRASIL, 1952): empresa pública federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Com foco em financiamento de longo prazo, o BNDES apoia projetos de investimento em uma ampla gama de setores da economia, incluindo infraestrutura, energia, inovação, saúde, educação e sustentabilidade. Por meio de sua atuação integrada com o MDIC e outras entidades do governo, o BNDES tem um papel crucial no avanço de agendas estratégicas, como o Plano Clima, que visa adaptar o setor produtivo às demandas de uma economia verde -
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Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) - Lei nº 5.966/73 (BRASIL, 1973): Cabe ao Inmetro formular e supervisionar a política nacional de metrologia, normalização industrial e certificação da qualidade de produtos industriais, prevendo mecanismo de consulta que harmonize os interesses públicos das empresas industriais do consumidor. Sua atuação é crucial para o desenvolvimento de métricas e parâmetros de sustentabilidade que assegurem que a indústria esteja alinhada com as metas de descarbonização e resiliência climática. -
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Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) - Decreto nº 11.482/2023 (BRASIL, 2023a): de acordo com o Decreto nº 11.482/2023 caberá ao CNDI, dentre outras atribuições, apreciar propostas para o aumento da resiliência das cadeias produtivas nacionais e da capacidade tecnológica e de inovação do setor produtivo brasileiro, propor o aperfeiçoamento de políticas públicas que tenham impacto sobre o desenvolvimento industrial e apreciar propostas para o aumento da resiliência das cadeias produtivas nacionais e da capacidade tecnológica e de inovação do setor produtivo brasileiro facilitando a adoção de práticas sustentáveis e promovendo o engajamento das empresas na agenda climática. -
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Confederação Nacional da Indústria (CNI): é uma peça-chave para a implementação do Plano Clima, dado seu papel de articulação e representação da perspectiva da indústria brasileira. Atuando diretamente na interlocução com o governo, sua participação em discussões e em formulações de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade e adaptação climática, a torna essencial para auxiliar o governo na identificação dos reais desafios enfrentados pelo setor industrial, assegurando que as ações do Plano Clima estejam aderentes às realidades da indústria nacional. -
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Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) - Lei nº 10.668/2003 (BRASIL, 2003): Compete à Apex-Brasil a promoção comercial de exportações, em conformidade com as políticas nacionais de desenvolvimento, particularmente as relativas às áreas industrial, comercial, de serviços e tecnológica. A agência apoia empresas que buscam exportar produtos com valor agregado e certificações ambientais, ampliando o acesso de produtos sustentáveis ao mercado externo. -
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Comitê Técnico da Indústria de Baixo Carbono (CTIBC) - Decreto 11.547/2023 (BRASIL, 2023b): o Comitê promove a articulação dos setores público e privado para a consolidação da economia verde e subsídio a políticas públicas que estimulem a transição para uma indústria de baixo carbono, alinhadas às missões da nova política industrial em curso. -
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Ministério das Minas e Energia (MME) - Lei nº 4.904/1965 (BRASIL, 1965): responsável, pela formulação, direção e execução da política nacional nos assuntos referentes a minas e energia. -
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Agência Nacional de Mineração (ANM) - Lei nº 13.575/2017 (BRASIL, 2017): atua como o órgão regulador e fiscalizador das atividades minerárias no Brasil, garantindo o cumprimento das normas e regulamentos do setor. -
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Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) - Decreto Lei nº 764/69 (BRASIL, 1969): empresa estatal supervisionada pelo MME, que realiza pesquisas geológicas, hidrológicas e de recursos minerais. A CPRM é fundamental para o planejamento e o desenvolvimento sustentável da mineração, fornecendo informações geocientíficas essenciais. -
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Essas instituições, juntamente com o MDIC e o MME, formam um ecossistema integrado que é essencial para o sucesso do Plano Clima Adaptação. A atuação conjunta e coordenada desses órgãos e entidades é crucial para transformar a indústria e a mineração nacionais, promovendo uma economia mais verde, competitiva e resiliente aos desafios climáticos.
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1.3 Instrumentos (TÍTULO 3)
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Neste item, serão destacados os instrumentos com interface à adaptação climática e o setor industrial e mineral. É importante ressaltar que esta lista não é exaustiva, e que novos instrumentos podem surgir, incluindo a atualização dos instrumentos existentes.
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Lei Nº 14.904, de 27 de junho de 2024: Estabelece diretrizes para a elaboração de planos de adaptação à mudança do clima. Esta Lei determina as diretrizes para a elaboração de planos de adaptação à mudança do clima para diferentes esferas. Entre as diretrizes, destaca-se a implementação de medidas de redução de vulnerabilidade e exposição a riscos dos sistemas ambientais, sociais, econômicos e de infraestrutura. Além disso, a lei reforça a importância da inclusão de gestão de risco climático nos planos e nas políticas públicas setoriais e temáticas, e nas estratégias de desenvolvimento municipal, estadual, regional e nacional (BRASIL, 2024e). -
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Nova Indústria Brasil (NIB): a NIB desempenha um papel crucial ao atuar como um eixo estratégico para promover a modernização, sustentabilidade e resiliência no setor industrial do Brasil. Em um cenário de rápida mudança do clima e transformações econômicas globais, a NIB surge como um pilar fundamental para preparar a indústria brasileira a enfrentar os desafios ambientais e competitivos, que exigem adaptação constante. -
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Lançada em 22 de janeiro de 2024 com o objetivo de impulsionar a indústria nacional até 2033, a Nova Indústria Brasil, utiliza instrumentos tradicionais de políticas públicas, como subsídios, empréstimos com juros reduzidos e o aumento de investimentos federais. Além disso, o programa oferece incentivos tributários e fundos especiais para estimular determinados setores da economia. A NIB foi elaborada e aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) que é composto por 20 ministérios, pelo BNDES e 21 entidades representativas da sociedade civil, do setor produtivo e dos trabalhadores. De acordo com o seu Plano de Ação, de 2024 a 2026 a NIB conta com R$ 300 bilhões destinados a financiamentos para o setor, com investimentos pautados fundamentados em sustentabilidade e inovação.
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A sinergia, portanto, entre a NIB e o Plano de Adaptação da Indústria é essencial para transformar o setor industrial do Brasil, promovendo um desenvolvimento econômico que seja sustentável e resiliente. A NIB, com seu foco em inovação, sustentabilidade e competitividade, complementa e potencializa o Plano de Adaptação ao fortalecer a base da indústria em frentes estratégicas como tecnologias verdes, eficiência energética e economia circular. Essa colaboração cria um ecossistema propício para que as indústrias implementem práticas alinhadas com as demandas ambientais globais, respondendo aos desafios de maneira integrada. A NIB proporciona uma infraestrutura e um ambiente regulatório que incentivam a adoção de novas tecnologias e métodos produtivos sustentáveis, enquanto o Plano de Adaptação da Indústria oferece uma estrutura que ajuda as empresas a se prepararem para riscos climáticos e a ajustarem seus processos produtivos conforme os padrões ambientais exigidos (PEDUZZI, 2024).
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Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA): O Plano, instituído em 10 de maio de 2016 por meio da Portaria nº 150, foi um instrumento elaborado pelo governo federal em colaboração com a sociedade civil, setor privado e governos estaduais com o objetivo de promover a redução da vulnerabilidade nacional à mudança do clima e realizar uma gestão do risco associada a esse fenômeno. O PNA (BRASIL, 2016) está em fase de atualização e será substituído pelo Plano Clima Adaptação.
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Outros instrumentos impactam indiretamente a indústria frente à agenda de adaptação a mudança do clima, tais como:
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Programa Mover – Mobilidade Verde e Inovação: O Programa reduz o imposto de quem polui menos, aumenta exigências de sustentabilidade de veículos e expande investimentos em eficiência energética (BRASIL, 2023f). -
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Plano de Transformação Ecológica (PTE): O PTE, lançado pelo Ministério da Fazenda, busca promover uma nova perspectiva de paradigmas econômicos, tecnológicos e culturais em prol do desenvolvimento a partir de diretrizes de sustentabilidade. Um dos eixos desse plano é Nova Infraestrutura Verde e Adaptação. Esse eixo destaca a importância da adaptação e construção de resiliência climática, incluindo temas como a construção de infraestrutura resiliente e a prevenção de desastres por meio de obras de drenagem e contenção de encostas e sistemas de monitoramento e alerta. Também são destacados a importância da resiliência no setor energético e agropecuário (BRASIL, 2023e). -
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Estratégia Nacional de Economia de Impacto: A Estratégia Nacional de Economia de Impacto é uma articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil com o objetivo de promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto. Ela está estruturada em cinco eixos estratégicos: (i) Ampliação da oferta de capital para a economia de impacto; (ii) Aumento do número de negócios de impacto; (iii) Fortalecimento das organizações intermediárias; (iv) Promoção de ambiente institucional e normativo favorável aos investimentos e Negócios de Impacto; e (v) Articulação Interfederativa com Estados e Municípios no fomento à economia de impacto (BRASIL, 2023c). -
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Declaração pelo Desenvolvimento da Indústria e do Brasil: O setor industrial propõe 10 princípios orientadores para impulsionar a agenda nacional de desenvolvimento com bases modernas. Entre eles, destacam-se a menção a inovação industrial, transição energética e descarbonização. Reforça-se que energia de baixo carbono e acessível, economia circular, conservação florestal, entre outras ações mencionadas no documento contribuem para a redução dos riscos e apoiam a estratégia de adaptação do setor (BRASIL, 2024b). -
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Além destes, instrumentos relacionados à água e energia podem influenciar a indústria, com destaque para o Plano Nacional de Recursos Hídricos – PNRH 2022-2040 (BRASIL, 2022), Plano Nacional de Energia 2050 (BRASIL, 2020) e Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 (PDE) (BRASIL, 2024d).
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A adaptação à mudança do clima é essencial para os setores industrial e de mineração dada a exposição e vulnerabilidade das operações e cadeias produtivas frente às repercussões socioambientais e econômicas dos impactos causados pela emergência climática. A complexidade do arranjo institucional, que abrange uma série de leis, políticas e planos de adaptação implementados em diferentes esferas – federal, estadual e municipal –, reforça a necessidade de uma abordagem integrada e coordenada como esta que está sendo proposta por meio do Plano Setorial de Adaptação à Mudança do Clima – Indústria e Mineração. No Brasil, a articulação entre esses instrumentos regulatórios e a inovação no setor industrial são fundamentais para garantir a resiliência e sustentabilidade no curto, médio e longo prazo.
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2. Principais riscos e vulnerabilidades (BLOCO 2)
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Entre os principais desafios enfrentados pela indústria e pela mineração brasileiras estão os impactos da mudança do clima, que incluem a maior frequência de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e tempestades, e o agravamento de impactos crônicos, como o aumento do nível do mar, afetando diretamente as operações e cadeias produtivas. Esses eventos podem causar danos às infraestruturas, interromper o fornecimento de matérias-primas e energia, além de elevar os custos operacionais. O setor de mineração tem forte interface com o setor industrial, analisá-los em conjunto garante a análise dos mesmos riscos e assegura maior coerência na estratégia de adaptação.
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Eventos climáticos extremos são fenômenos climáticos e/ou meteorológicos que ocorrem em volume acentuado e fora dos níveis considerados normais. São exemplos a ausência de precipitação (secas); ventos fortes (vendavais e tornados); períodos prolongados de baixa ou alta umidade do ar; altas ou baixas temperaturas - como ondas de calor ou de frio acima da média normal (MAIA, 2024). Os setores industrial e de mineração estão sujeitos a diversos riscos climáticos relacionados não apenas ao impacto direto dos eventos extremos, mas também aos chamados riscos de transição, que ameaçam as atividades industriais por razões como o aumento do preço de carbono, novas tendências do mercado e risco reputacional relacionado à falta de ação climática.
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O risco climático físico é composto por ameaças agudas (como chuvas extremas e ondas de calor) e ameaças crônicas (como o aumento gradual da temperatura média e o aumento do nível do mar) e sua relação com o local em que ocorre, mais especificamente a exposição e a vulnerabilidade. Os impactos podem ocorrer tanto dentro quanto fora das fronteiras da indústria, sendo que alguns impactam essas duas esferas. As tempestades e inundações, por exemplo, podem causar danos às instalações de produção, interrupções nas cadeias de abastecimento, interrupções nas fontes de energia, entre outras. Parques industriais localizados em regiões de topografia acentuada estão particularmente mais vulneráveis a deslizamentos, enquanto aqueles localizados nas proximidades de cursos d’água estão especialmente vulneráveis ao risco de inundações.
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O enfrentamento desses desafios exige investimentos substanciais, que abrangem o desenvolvimento de tecnologias inovadoras voltadas tanto à redução das emissões de gases de efeito estufa quanto à adaptação a eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e deslizamentos de terra, e a impactos crônicos, como o aumento do nível do mar. Além disso, é crucial investir em infraestrutura resiliente, práticas de gestão sustentável de recursos naturais e na transição para fontes de energia renováveis. Tais ações não apenas contribuem para mitigar os impactos ambientais, mas também fortalecem a capacidade das indústrias de operar de forma mais eficiente e resiliente diante da mudança do clima, promovendo um desenvolvimento econômico sustentável e de baixo carbono.
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Dentre os principais riscos físicos para indústria e mineração, destacam-se:
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Por sua natureza complexa e interdependente, a infraestrutura industrial é altamente vulnerável aos impactos da mudança do clima. Sob a perspectiva da infraestrutura física, alguns dos principais riscos incluem:
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Perda de ativos: A destruição total ou parcial de instalações industriais pode gerar perdas financeiras significativas, além de impactar a capacidade produtiva das empresas.
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Danos físicos às instalações: Edifícios, maquinários, equipamentos e sistemas de produção podem ser danificados por inundações, ventos fortes, raios e incêndios. A corrosão de equipamentos e estruturas metálicas, acelerada pela umidade e variação de temperatura, também representa um risco significativo.
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Danos físicos à infraestrutura de apoio e logística críticas: danos à infraestrutura crítica, como portos, estradas, ferrovias e sistemas de transporte podem interromper a logística e o transporte de insumos ao longo das cadeias de suprimentos, bem como dos produtos acabados. Isso pode levar a atrasos na produção, escassez de produtos e aumento dos custos e dos preços dos produtos, afetando a competitividade das indústrias, inclusive a extrativa mineral. Esses riscos podem variar de região para região. Por exemplo, indústrias localizadas em zonas costeiras ficam mais vulneráveis à elevação do nível do mar, enquanto indústrias que dependem do nível de rios para sua logística podem ficar mais vulneráveis a variação dos volumes de precipitação (secas e chuvas extremas).
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Contaminação: Dependendo do tipo de indústria e minas, bem como dos processos envolvidos, a paralisação das operações industriais pode resultar em riscos ambientais adicionais. Por exemplo, indústrias que lidam com produtos químicos perigosos podem precisar implementar medidas de segurança especiais durante a paralisação para evitar vazamentos ou derramamentos que possam contaminar o meio ambiente e representar riscos para a saúde pública.
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Segurança e saúde do trabalhador: Além dos prejuízos financeiros decorrentes da paralisação temporária ou permanente das operações industriais, esses eventos também representam riscos à segurança dos trabalhadores e das comunidades circundantes. Ademais, a interrupção das atividades pode impactar negativamente a economia local, com redução na arrecadação de impostos, investimentos em infraestrutura, serviços públicos e programas sociais, afetando, consequentemente, a qualidade de vida e o bem-estar dessas comunidades.
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Restrição do abastecimento (energia, água, matérias-primas) e consequente interrupção parcial ou total das operações industriais e logística (TÍTULO)
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Eventos climáticos extremos, como tempestades, furacões, incêndios florestais, aumento do nível do mar e acidificação dos oceanos podem impactar a disponibilidade de recursos naturais, como minerais, madeira e produtos derivados de plantas e animais, podendo também interromper a produção, o transporte e a distribuição de matérias-primas e insumos ao longo das cadeias de suprimentos globais, sendo que tais interrupções podem levar a atrasos na produção, aumento dos custos e escassez de produtos finais.
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- Zona Costeira: O aumento do nível do mar pode aumentar a intrusão salina, causando um potencial problema de captação de água do setor industrial nas áreas costeiras e, em especial, nas áreas próximas à foz dos rios, afetando os reservatórios de água doce, reduzindo a qualidade da água disponível para uso industrial. Além disso, o aumento do nível do mar pode causar danos estruturais às tubulações ou outras integridades causadas pelo enfraquecimento da estrutura do solo, bem como oxidação de estruturas metálicas e eventuais atrasos na entrega de matérias-primas para operações e de escoamento dos produtos.
- Acesso a água: A água é um dos vetores chave no âmbito dos impactos biofísicos e socioeconômicos. Mudanças no padrão pluviométrico ou eventos extremos que afetem a disponibilidade ou a qualidade da água utilizada pela indústria em seus processos, demandam a elaboração de estratégias de adaptação em diferentes escalas no curto, médio e longo prazo, pois podem afetar drasticamente o nível de atividade industrial, causando aumento de custos ou inviabilizando determinados segmentos intensivos no uso desses recursos.
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O setor industrial responde por 9,4% do volume total de água retirada, de acordo com o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil (ANA, 2024). O aumento da frequência das secas pode afetar a disponibilidade de matéria-prima essencial em setores como agricultura, mineração, produção de energia e fabricação, que dependem da água para processos de produção e resfriamento. Adicionalmente, a diminuição da vazão dos rios pode reduzir a capacidade de geração das usinas hidrelétricas, afetando o fornecimento de energia elétrica, especialmente em países que dependem fortemente dessa fonte. A indústria de energia, especialmente termelétricas e usinas nucleares, depende de grandes volumes de água para resfriamento. A disponibilidade reduzida de água pode comprometer a operação dessas plantas.
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Além disso, a redução do nível dos rios pode dificultar a navegação fluvial, um meio de transporte crucial para muitas indústrias. Isso pode aumentar os custos de transporte, pois as empresas terão que recorrer a modos de transporte alternativos mais caros. A diminuição da vazão também pode aumentar a sedimentação nos rios, dificultando ainda mais a navegação e exigindo dragagem constante, o que eleva os custos operacionais.
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- Biodiversidade: Diversos segmentos industriais como a indústria farmacêutica, cosmética, de biocombustíveis, de base florestal, química etc., são potencialmente afetados pela redução da biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos associados, responsáveis pela provisão de água, matéria-prima, regulação do clima, ciclagem de nutrientes, polinização, dispersão de sementes, dentre outros.
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A crise climática em curso já é bastante conhecida, no entanto, cresce outra crise, relativa à biodiversidade, que também é amplamente afetada pelos impactos da mudança do clima. A biodiversidade, ou diversidade biológica, refere-se à variedade de vida no planeta, incluindo variedade de ecossistemas, espécies e genes (ABIFINA, 2007). Ela desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico e sustentável de diversas indústrias e, por essa razão, cada vez mais vêm-se investindo em preservação e utilização responsável de recursos naturais. De acordo com um relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), um milhão de espécies da Terra estão agora em risco de extinção (IPBES, 2019).
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Exemplos de recursos naturais oferecidos pela biodiversidade são água, alimentos, fibras (como o algodão e a viscose), madeira e energia. A escassez desses recursos resulta em redução da oferta de suprimentos, aumento dos custos de produção e impactos negativos na qualidade de vida das comunidades locais que trabalham nas próprias indústrias. Alguns dos setores diretamente impactados são a agroindústria, a indústria alimentícia, farmacêutica, química, cosmética, de fitoterápicos e da moda.
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Muitos medicamentos e produtos derivados de plantas, animais e micro-organismos têm sido descobertos por meio de pesquisas na biodiversidade. Esses produtos não apenas compõem as receitas das empresas, mas também melhoram a qualidade de vida das pessoas e contribuem para a localidade onde a indústria está inserida. A redução e a interrupção da oferta de insumos e matéria-prima devido à mudança do clima podem ter implicações significativas para a indústria em vários setores.
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Impactos negativos na biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos associados podem ocasionar riscos econômicos, além de perda de oportunidades de geração de valor, como a criação de produtos inovadores. Em contrapartida, destacam-se algumas oportunidades que surgem a partir dos riscos observados, como o investimento em pesquisa e desenvolvimento de espécies resistentes a temperaturas mais altas em regiões de plantio sujeitas a ondas de calor. A adoção de práticas conservacionistas, como plantio direto na palha, rotação de culturas, aumento de matéria orgânica no solo, uso de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), entre outras, ajudam a mitigar riscos de perdas causadas por adversidades climáticas (EMBRAPA, 2024).
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É importante ressaltar que a inserção de comunidades locais e tradicionais na tomada de decisão sobre sistemas de plantio é de alto valor para a cadeia produtiva industrial, de modo a aproveitar conhecimentos e saberes tradicionais e compartilhar pesquisas que visem a resiliência a impactos climáticos no contexto da agricultura.
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Riscos à saúde e segurança do trabalhador (TÍTULO)
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Os eventos climáticos extremos representam sérios riscos à saúde e segurança dos trabalhadores, especialmente para aqueles que atuam ao ar livre, como nas indústrias de mineração e construção civil. O aumento das temperaturas pode dificultar o recrutamento, a retenção e a segurança dos trabalhadores, além de reduzir sua produtividade e elevar os riscos de acidentes. O calor extremo e as ondas de calor, por exemplo, são consequências da mudança do clima que expõem trabalhadores industriais a condições extremas, podendo causar hipertermia e exaustão pelo calor — condições que podem ser fatais se não tratadas rapidamente. Trabalhadores com problemas de saúde preexistentes, como doenças cardíacas, respiratórias ou renais, são particularmente vulneráveis, pois essas condições podem ser agravadas pelo calor intenso.
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Inundações e alagamentos podem afetar gravemente a saúde dos trabalhadores da indústria, pois a contaminação da água potável e de outras fontes de água usadas nas instalações industriais pode expô-los a patógenos, bactérias, produtos químicos tóxicos e poluentes. Essa exposição pode resultar em doenças gastrointestinais, dermatológicas e respiratórias, dependendo do tipo de contaminação. Além dos riscos físicos, esses eventos climáticos extremos também podem impactar a saúde mental dos trabalhadores, causando estresse, ansiedade, trauma emocional e sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Esses efeitos psicológicos podem persistir mesmo após o fim do evento e exigem atenção para garantir o bem-estar dos trabalhadores.